É a Sara outra vez! Espero que estejam a gostar desta pequena colecção de one-shots.
Bjinhos*
Fuck Like a Star
Entras na sala nas tuas calças pretas justas como uma segunda pele, os teus sapatos de salto e um dos teus muitos tops que te acentuam cada curva do teu corpo cada vez mais magro, gostas de provocar, sempre esteve na tua natureza. Entras no teu andar de gata assanhada disfarçada por debaixo do teu ar angelical e toda a sala pára para te observar, desde que soubeste como tirar partido do teu corpo que fazes o mundo parar para te observar. Puxas de um cigarro da pequena bolsa e depressa um rapaz se aproxima de ti com um isqueiro pronto a satisfazer todos os teus caprichos. Olhas à volta procurando alguém que desperte o teu interesse, quanto mais não seja apenas por esta noite, enquanto a música volta a fazer-se soar e as pessoas voltam a sua actividade anterior. Os corpos em parte já suados desfrutam da batida enquanto os teus olhos se fixam em alguém e a tua língua passa devagar pelos teus lábios, um dos teus muitos tiques que em parte ganhaste comigo. Avanças na multidão para mais uma presa, não adianta lutar porque no fim acabas sempre por ganhar, tu mexes com qualquer um, tornas qualquer um irracional e quando o tens na palma da mão usas e abusas e no fim deitas fora.
Lembro-me da nossa primeira vez, quisemos saber como era, experimentamos e gostamos, quantas noites passamos juntos até que era altura de usar os truques que tínhamos aprendido um com o outro com outros. Saímos uma noite para um dos bares mais movimentados de Berlim, tínhamos ido passar uma semana de férias lá, e tentamos engatar alguém. Lembro-me de ter sido o primeiro a arranjar uma companhia, mas depressa te vi chegar à mesa onde eu estava sentado com a loira no meu colo, com um rapaz moreno de porte desenvolvido e sabia que aquela noite daria frutos. No outro dia contamos um ao outro o que tinha acontecido, como era poder subjugar alguém às nossas técnicas de sedução. A partir daí assisti à tua queda, durante algum tempo continuei o que tínhamos começado juntos, mesmo quando as Tours começaram, mas tu eras muito melhor do que eu a jogar esse jogo. Depressa perdeste aquela tua inocência e te transformaste, a tua roupa tornou-se cada vez mais provocante, mais reduzida e a tua aparência tornou-se uma obsessão. Das poucas vezes que te via quando estava de férias observei o teu comportamento, a forma como a comida passou a ser secundária na tua vida, não vou dizer que não comes, mas a verdade é que passas muito tempo a olhar para as calorias tudo para manter essa tua aparência, tudo para que possas continuar esse teu jogo de sedução, de engate, de poder. Quando te confrontei, perguntaste-me se me estava a sentir ameaçado por a tua lista de conquistas ser mais extensa do que a minha. Não me deste hipóteses de responder e foste embora. Foi nesse momento que perdemos o contacto.
Hoje olhando para trás sei que fui eu que te levei onde estás hoje, fui sempre eu que tomei a iniciativa, que te aliciou e te fez perder a inocência, mas no entanto nunca tiveste a coragem de dizer não, nunca te impuseste. E hoje não sou mais eu que te leva a continuar esse teu jogo, neste momento és tu quem o queres continuar. Não sei como não percebi o momento em que todas estas conquistas passaram a ser uma disputa entre nós, não sei em que momento tu sentiste que estávamos a competir. Sei hoje que me tentas superar, tentas ser mais do que eu fui, tentas usar mais do que eu usei e só gostava de perceber o que te levou a fazer isso. Terias tu inveja de mim por ser uma estrela, acharias que eu teria a vida facilitada nas conquistas por ser famoso? Não sei, às vezes penso que queres ser como eu e por isso ages assim, e no entanto essa não me parece ser a respostas.
Observo novamente a sala e tu não estás já no meio da multidão, tu e a tua presa desapareceram já para um dos quartos que esta discoteca disponibiliza. A multidão esqueceu-te por momentos, mas quando voltares a ressurgir em todo o teu esplendor todos quererão um pedaço de ti, mas só aquele que tu convidas por uma noite terá direito a tocar-te. Dizem que fodes como uma estrela, não sei, há muito tempo que não sinto o teu corpo, há muito tempo que não te tenho só para mim. E sabes Anne, gostava de nunca te ter partilhado, hoje, depois de tudo o que vivi, sei que nunca deveria ter permitido que outros te tocassem, pois ninguém te merecesse verdadeiramente. Hoje, sei a falta que o teu corpo me faz, sei a falta que o teu sorriso me faz, mas sei também que nunca irei recuperar algo que deixei fugir. Espero que fiques bem e que se um dia nos voltarmos a cruzar espero que me deixes resgatar-te dessa vida caótica que insistes viver.